Patrimônios da Humanidade

Patrimônios da Humanidade

27 junho 2012

Modelos e práticas de Gestão Escolar: algumas reflexões.


Modelos e práticas de Gestão Escolar: algumas reflexões.
Percursos Históricos, Ano II, vol. jun., série 28/06, 2012

SOARES, Marilda
Podemos, em síntese, dizer que há três práticas de gestão escolar mais comuns no cotidiano dos educadores e das escolas: a gestão democrática, a gestão burocrática e a gestão autocrática.
A gestão democrática é também participativa. Nela o gestor encontra-se com os demais membros do contexto escolar para compartilhar problemas, ouvir propostas e tomar as decisões, sempre pautado pelo bom senso, pela ética e pela autoridade que lhe é conferida pela função que desempenha.



A gestão burocrática é aquela em que o gestor permanentemente ocupa-se de formulários, fichas de controle e afirma seguir as normas de modo a dar à instituição uma organicidade rígida. Nesse caso, geralmente, as especificidades não consideradas e as  decisões podem se sobrepor às reais necessidades da equipe gestora, dos educadores, funcionários, alunos e, mesmo, opor-se aos reais interesses da educação, que são a qualidade de ensino e a formação permanente.
Na gestão autocrática, por sua vez, o gestor constrói em torno de si uma muralha, considerando-se superior aos demais membros da equipe escolar. A concentração de poder e as atitudes autoritárias são comuns a esse modelo de gestão, pois não são consideradas necessidades ou opiniões.
Há, ainda, uma combinação entre os modelos de gestão burocrática e autocrática, circunstância em que o gestor passa a encontrar sérias dificuldades para compor sua equipe de trabalho, na medida em que afasta-se do fator básico que é a valorização dos profissionais que o cercam, bem como incorre em erros ainda mais sérios, isolando-se e distanciando-se da possibilidade de constituir relações interpessoais solidárias.  
Ao refletirem sobre esses modelos de gestão escolar, os educadores preocupados com a qualidade do ensino têm se debruçado sobre os temas da gestão democrática e da escola autônoma, na medida em que esses aspectos interferem diretamente no contexto escolar e na forma de organização do trabalho, tanto no que se refere aos aspectos administrativos, quando aos relacionados ao envolvimento dos sujeitos escolares e da qualidade do ensino oferecido.
Atualmente, há um consenso de que a democratização da gestão garante a possibilidade de melhoria no processo educacional como um todo.
Quando se fala em gestão democrática e autonomia é fundamental considerar a necessidade de envolvimento de todos os seguimentos da comunidade escolar na construção de espaços de discussão e tomada de decisão, que é um processo contínuo e dinâmico.
Para tanto, os gestores devem garantir a participação, o envolvimento e a interação dos docentes, funcionários, alunos e da própria comunidade, pois uma escola democrática exige a prática do ouvir, do falar, do decidir coletivamente.
É fundamental, também, que os professores estejam dispostos a enfrentar a necessidade de adequar e renovar seus métodos de ensino, bem como sua postura frente aos desafios cotidianos do ambiente escolar.
O contexto histórico atual impõe aos profissionais da educação a adoção de nova concepção de educação e de prática educativa, nas quais o autoritarismo desse ser posto de lado, dando lugar ao exercício das práticas democratizantes.
No texto O Projeto Pedagógico e a construção da autonomia: alguns pontos para reflexão, Miguel Henrique Russo afirma que um caminho para a construção da gestão democrática, da constituição da equipe de trabalho, da formação docente e da definição das metas educativas é a discussão e a construção coletiva do Projeto pedagógico:
A organização tecno-burocrática das redes e unidades escolares, que centraliza o poder e que separa a concepção da execução, expropriou dos professores aquilo que faz deles educadores: a autonomia para conduzir seu trabalho com independência intelectual. O resultado da vigência desse modelo contribuiu para produzir o estado atual da escola e do ensino e, especialmente, contribuiu para a desqualificação dos docentes.
O projeto político-pedagógico aparece, nesse cenário, como o instrumento capaz de catalisar um movimento que, ao mesmo tempo que se opõe ao centralismo e a visão tecnocrática na educação, é capaz de redimir os professores e demais sujeitos da escola com a construção coletiva de uma proposta singular para sua escola concreta, que constitui seu espaço cotidiano de trabalho e estudo (RUSSO, 2000, p. 1).

Assim, vemos que o Projeto Pedagógico é um instrumento central no processo de mudança das concepções e práticas educativas, na medida em que pode favorecer ou não a descentralização, a participação e a construção coletiva do conhecimento e da escola democrática.
O mesmo autor, em Projeto Político-Pedagógico da escola e descentralização da educação, considera:
Na medida em que a transformação da escola é um processo que pode seguir em diversas direções, o projeto tem a função de estabelecer uma diretriz que vai orientar os planos e as ações individuais e coletivas. Daí ter ele que contemplar uma reflexão e uma opção da escola sobre os valores que serão adotados no estabelecimento das finalidades da educação a ser oferecida aos alunos.
A definição de valores e fins que nortearão o trabalho da escola é, como vimos, fundamental, porém não completa o projeto. Não só porque ele não se esgota na concepção, isto é, não pode se limitar a criação de um objeto ideal, mas sobretudo, e principalmente, porque engloba etapas cruciais de operacionalização dos valores e fins: em termos de planos específicos que dêem conta das várias dimensões do trabalho escolar, como o Plano Escolar (Plano de Gestão), os Planos de Ensino etc; em termos das normas regulamentares do processo escolar (Regimento Escolar e outros documentos normativos ...) que precisam ser implementados (RUSSO, 1998).

A construção e organização do Projeto Pedagógico devem conter a identificação da comunidade na qual a escola está inserida, suas especificidades e necessidades; a organização de grupos de trabalho, para leitura e discussão de referenciais teóricos e documentos; a proposta e organização de atividades que garantam alcançar os objetivos de ensino-aprendizagem e de constante construção do conhecimento; a avaliação do processo e dos resultados; e, de forma dinâmica, a adoção de novas perspectivas, caso seja necessário.
O gestor deve considerar que o Projeto Pedagógico envolve aspectos ligados à participação dos diferentes sujeitos escolares, a organização do currículo escolar como eixo direcionador do processo de ensino-aprendizagem, visando a melhoria da qualidade da educação e maiores oportunidades educativas e sociais para os alunos.
Conforme esclarece Rios,
Os diretores são articuladores dos projetos; o que significa que não o fazem isolados ou por uma determinação pessoal, mas que devem estar mesmo procurando ligar ações, coordenar atividades, promover relações, no sentido de compor a teia curricular das unidades escolares. Trabalho coletivo... Trabalho de tessitura de um artefato que possa mesmo ser chamado de uma rede – rede de ensino tecida por nós (RIOS, 1992).

A integração dos diferentes sujeitos no processo de discussão e tomada de decisão faz com que todos se sintam valorizados: os alunos e os profissionais da educação. Assim, certamente, haverá mais envolvimento e cooperação e muitos problemas que parecem crônicos poderão ser solucionados por meio da participação democrática.

Bibliografia.
ALONSO, Mirthes. O papel do diretor na Administração Escolar. São Paulo: Difel, 1982.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.
DOURADO, Luiz Fernandes. Progestão: como promover, articular e envolver a ação das pessoas no processo de gestão escolar. Módulo II.
DRUCKER, Peter. De líder para líder. São Paulo: Futura, 1992.
FAVA, Rubens. Caminhos da Administração. São Paulo: Pioneira, 2002.
FERREIRA, Naura S. C. (org.) Gestão democrática da Educação: atuais tendências, no­vos desafios. São Paulo: Cortez, 2003.
LÜCK, Heloísa. Dimensões da gestão escolar e suas competências. Curitiba: Positivo, 2009.
RUSSO, Miguel. O projeto pedagógico e a construção da autonomia: alguns pontos para reflexão. In: VII Seminário Estadual da Associação Nacional de Politíca e Administração da Educação - ANPAE/SP, 2000, São Carlos. Anais do VII Seminário Estadual da ANPAE-SP, 2000.
SANTOS, Clovis Roberto dos. A gestão educacional e escolar para a modernidade. São Paulo: Cengage Learning, 2008.